quarta-feira, 8 de novembro de 2017

O Reverso da Fortuna

Boa noite galera que nos acompanha.

Hoje estou trazendo para vocês mais um texto de grande qualidade, com uma análise bem interessante, do nosso colaborador João Henrique Alves.

Espero que vocês gostem.

Como sempre, se quiserem, os comentários estão liberados.


O “reverso da fortuna” se diz de quando perdemos tudo, quando não temos nada. É uma forma interessante e objetiva de descrever os últimos dez anos do nosso clube.

Perdemos para o City, em um resultado totalmente esperado.

Nossa falta de vontade, disciplina, treinamento e espírito de luta no jogo só rivalizam com a arbitragem desastrosa.

Assim eu defendo algo que é muito caro à grande parte da torcida: utilizar a má arbitragem como condescendência a um futebol mal jogado de um clube sem ambição; é um problema grave da torcida.

Então vamos por partes.

SIM, estamos sendo prejudicados sistematicamente por arbitragens pontualmente ruins, que não estão em acordo com o que acontece comumente no futebol inglês, que costuma ter um nível de arbitragem muito bom.

SIM, no jogo de domingo fomos duplamente prejudicados por dois erros crassos, dignos de Michael Oliver e seu estilo obtuso de arbitragem.

SIM, poderíamos ter reagido depois da entrada de Lacazette, jogador que nunca deveria começar no banco, salvo lesão.

E NÃO, os erros não foram decisivos para perdemos o jogo.

Defendo essa tese por teimar que, diferentemente da maior parte da torcida que tende a assistir o jogo com uma visão totalmente passional, é preciso ver o jogo na sua essência.

E a verdade é que, mais cedo ou mais tarde, pela maneira como o time foi armado e com a vontade do adversário, aliado à aplicação tática do City e sua capacidade de jogar um futebol ofensivo de alta voltagem, faria com que o mais provável fosse que o resultado adverso teimaria a aparecer de uma maneira ou de outra.

Assim, mesmo acreditando que não existe “se” no futebol, o estilo de jogo e a situação do clube influem, e muito, no resultado, muito mais do que o poder de uma arbitragem ruim.

Dito isso, passemos para o nosso reverso da fortuna.

Nos últimos anos, o Arsenal se tornou um clube especialista em se auto boicotar indefinidamente. De forma sistemática, eu diria.

É incrível nossa capacidade de minar toda e qualquer chance de jogar um futebol minimamente aceitável com o material humano que temos.

Essa situação é um amálgama de coisas que vão desde o fato de termos um técnico totalmente incapaz de criar uma atmosfera positiva dentro do clube, além de demonstrar não conseguir criar um estilo de jogo competitivo para a nova realidade do futebol moderno, até a flagrante falta de vontade de nossos melhores jogadores.

Arsène Wenger parece estar preso no dia da marmota de 2004, onde o futebol bonito e bem executado não cabe mais na velocidade e marcação empregada por jogadores que estão cada vez mais fortes e cada vez mais focados e disciplinados ao jogo coletivo, se você não fizer o que manda a cartilha do futebol moderno.

Assim, equipes que jogam feio, como as de José Mourinho, têm muito mais chance de ser bem sucedidas por jogar com disciplina tática.

Ou seja, nossa incapacidade de ler o mundo atual do futebol demonstra claramente que nosso Boss não tem o pensamento “linkado” com o que os atletas acreditam.

Prova disso é constatar que, mesmo sendo convencido pelos atletas que deveria espelhar o novo 3-4-3 que virou a moda da vez para tentar jogar um futebol mais pragmático, Wenger não foi capaz de assimilar como seu tipo de jogo clássico poderia colar nesse esquema tático.

Assim, ele se tornou incapaz de propor aos atletas como deveriam jogar que, por sua vez, foram incapazes de entender como deveriam se portar.

Além do que, não obstante a falta de vontade da maioria de seus craques (e já vou chegar lá nesse quesito), uma vez que esses não conseguiram entregar o que deles foi exigido, o técnico francês não teve a coragem de barrar seus protegidos para que cada jogador pudesse dar seu melhor em sua posição de origem.

O 3-4-3 é um estilo que depende da rápida transição de jogo, do entrosamento do meio com seus pontas e da correção tática na hora de defender e atacar.

Basicamente, o time deve formar uma linha de 5 na defesa quando não estiver com a bola para povoar a área e não deixar o adversário criar chances de gol ou espaço para criar; uma vez no contra-ataque, avançar as linhas intermediárias para a frente posicionando seus dois atacantes laterais como flechas que vão abrir o jogo e tentar criar chances abrindo a defesa adversária, utilizando seus dois laterais mais abertos cobrindo possíveis espaços do contra-ataque adversário.

Na construção de jogadas de ataque e na posse da bola, utiliza-se os meias, tanto para proteger os flancos na subida dos laterais, como para criar chances acionando os atacantes nas pontas, girando o jogo com rapidez e infiltrando na zaga adversária através de passes rápidos e transição acelerada dos atacantes para receber as bolas para criar chances.

Agora eu pergunto: vocês conseguem enxergar jogadores como Mesut Özil, Aaron Ramsey ou Granit Xhaka funcionando bem e dando o seu melhor em um esquema como esse?

Sim, é a resposta.

Só que quando se trata do Wenger e seus blue-caps, recebemos um sonoro “só que não”.

Nossos atletas tem zero efetividade em se adaptar a esse esquema tático. Podemos enxergar essa mudança claramente em jogadores de nossos principais rivais, como Kevin de Bruyne e David Silva, para citar nomes do adversário de domingo.

Não me parece o caso do Özil, que tem demonstrado uma total falta de comprometimento e vontade de se adaptar ao esquema, inclusive dando declarações públicas de que “não se sente confortável” em jogar pela ponta.

Wenger tentou transformá-lo em um atacante de ponta de campo quando, claramente, ele não funciona bem por ali, muito por sua incapacidade (ou vontade) de se adaptar.
Ramsey é um caso de indisciplina tática, avalizado pelo comandante, já que não consegue se manter a postos para cobrir o buraco causado pelas subidas do Back Wide Winger. Ele continua jogando como quer, ou seja, como meia atacante armador (inclusive sua indisciplina tática criou a única chance real no jogo de hoje, aproveitada com maestria pelo Lacazette).

Já Xhaka, que é classe, teve seu excelente futebol boicotado pelo Boss por que não consegue dar o primeiro combate no meio campo adequadamente por falta de velocidade necessária para tanto. Ele é um primeiro volante clássico.

Aqui eu estou dando exemplo de três atletas capazes. Poderia citar qualquer um.

Enfim estamos perdendo a chance de ouro com jogadores como Olivier Giroud, Hector Bellerín e Laurent Koscielny, que estão no melhor de sua forma por conta de um treinador que não sabe como treinar seu time para se adaptar a um esquema que ele não gosta e que nosso time não tem em seu DNA.

Já Alexis é um caso a parte. Um estudo de caso interessante de nosso “reverso da fortuna”. Eu achava que era uma boa ideia mantê-lo, mesmo entregando o atleta de graça no próximo verão, em troca de sermos competitivos, já que não fomos para o monstrengo da Champions League, poderíamos focar nossos esforços para tentar vencer a liga.

Era uma boa troca, cerca de 60 milhões de libras pela chance de um título tão esperado. Estava redondamente enganado.

Além de estar em fase técnica ruim, sua cabecinha está em todo lugar, com seus lindos cachorros, com a namorada bonita, com o azul celeste da camisa que queria defender, menos nos caminhos de Highbury Road.

Trocando em miúdos: Özil e Sánchez parecem estar em outra sintonia, num pensamento fechado num futuro que não tem nada a ver conosco, com nosso clube e com nosso escudo.

Enquanto isso, outros atletas que poderiam estar dando mais, começam no banco e tem suas chances usurpadas.

Hora ou outra ele se cansaram e pedem para sair como fez Robin Van Persie, ou pior, farão como Cesc Fàbregas e deixarão o clube pela porta dos fundos.
Toda fortuna que criamos para nós mesmos é entregue em forma de futebol ruim para nossos adversários, seja com apresentações abaixo da crítica, seja com entrega de nossos talentos para equipes mais ambiciosas que nós.


Somos ou não somos o reverso da fortuna? 

João HenRique Alves

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