Boa noite galera que nos acompanha.
Hoje estou trazendo para vocês mais um texto de grande qualidade, com uma análise bem interessante, do nosso colaborador João Henrique Alves.
Espero que vocês gostem.
Como sempre, se quiserem, os comentários estão liberados.
O “reverso da fortuna” se diz de quando perdemos tudo,
quando não temos nada. É uma forma interessante e objetiva de descrever os
últimos dez anos do nosso clube.
Perdemos para o City, em um resultado totalmente
esperado.
Nossa falta de vontade, disciplina, treinamento e espírito
de luta no jogo só rivalizam com a arbitragem desastrosa.
Assim eu defendo algo que é muito caro à grande parte da
torcida: utilizar a má arbitragem como condescendência a um futebol mal jogado de
um clube sem ambição; é um problema grave da torcida.
Então vamos por partes.
SIM, estamos sendo prejudicados sistematicamente por
arbitragens pontualmente ruins, que não estão em acordo com o que acontece
comumente no futebol inglês, que costuma ter um nível de arbitragem muito bom.
SIM, no jogo de domingo fomos duplamente prejudicados por
dois erros crassos, dignos de Michael Oliver e seu estilo obtuso de arbitragem.
SIM, poderíamos ter reagido depois da entrada de
Lacazette, jogador que nunca deveria começar no banco, salvo lesão.
E NÃO, os erros não foram decisivos para perdemos o jogo.
Defendo essa tese por teimar que, diferentemente da maior
parte da torcida que tende a assistir o jogo com uma visão totalmente
passional, é preciso ver o jogo na sua essência.
E a verdade é que, mais cedo ou mais tarde, pela maneira
como o time foi armado e com a vontade do adversário, aliado à aplicação tática
do City e sua capacidade de jogar um futebol ofensivo de alta voltagem, faria
com que o mais provável fosse que o resultado adverso teimaria a aparecer de
uma maneira ou de outra.
Assim, mesmo acreditando que não existe “se” no futebol,
o estilo de jogo e a situação do clube influem, e muito, no resultado, muito
mais do que o poder de uma arbitragem ruim.
Dito isso, passemos para o nosso reverso da fortuna.
Nos últimos anos, o Arsenal se tornou um clube
especialista em se auto boicotar indefinidamente. De forma sistemática, eu
diria.
É incrível nossa capacidade de minar toda e qualquer
chance de jogar um futebol minimamente aceitável com o material humano que
temos.
Essa situação é um amálgama de coisas que vão desde o
fato de termos um técnico totalmente incapaz de criar uma atmosfera positiva
dentro do clube, além de demonstrar não conseguir criar um estilo de jogo
competitivo para a nova realidade do futebol moderno, até a flagrante falta de
vontade de nossos melhores jogadores.
Arsène Wenger parece estar preso no dia da marmota de
2004, onde o futebol bonito e bem executado não cabe mais na velocidade e
marcação empregada por jogadores que estão cada vez mais fortes e cada vez mais
focados e disciplinados ao jogo coletivo, se você não fizer o que manda a
cartilha do futebol moderno.
Assim, equipes que jogam feio, como as de José Mourinho,
têm muito mais chance de ser bem sucedidas por jogar com disciplina tática.
Ou seja, nossa incapacidade de ler o mundo atual do
futebol demonstra claramente que nosso Boss
não tem o pensamento “linkado” com o que os atletas acreditam.
Prova disso é constatar que, mesmo sendo convencido pelos
atletas que deveria espelhar o novo 3-4-3 que virou a moda da vez para tentar
jogar um futebol mais pragmático, Wenger não foi capaz de assimilar como seu
tipo de jogo clássico poderia colar nesse esquema tático.
Assim, ele se tornou incapaz de propor aos atletas como
deveriam jogar que, por sua vez, foram incapazes de entender como deveriam se
portar.
Além do que, não obstante a falta de vontade da maioria
de seus craques (e já vou chegar lá nesse quesito), uma vez que esses não
conseguiram entregar o que deles foi exigido, o técnico francês não teve a
coragem de barrar seus protegidos para que cada jogador pudesse dar seu melhor
em sua posição de origem.
O 3-4-3 é um estilo que depende da rápida transição de
jogo, do entrosamento do meio com seus pontas e da correção tática na hora de
defender e atacar.
Basicamente, o time deve formar uma linha de 5 na defesa
quando não estiver com a bola para povoar a área e não deixar o adversário
criar chances de gol ou espaço para criar; uma vez no contra-ataque, avançar as
linhas intermediárias para a frente posicionando seus dois atacantes laterais
como flechas que vão abrir o jogo e tentar criar chances abrindo a defesa
adversária, utilizando seus dois laterais mais abertos cobrindo possíveis espaços
do contra-ataque adversário.
Na construção de jogadas de ataque e na posse da bola,
utiliza-se os meias, tanto para proteger os flancos na subida dos laterais,
como para criar chances acionando os atacantes nas pontas, girando o jogo com
rapidez e infiltrando na zaga adversária através de passes rápidos e transição
acelerada dos atacantes para receber as bolas para criar chances.
Agora eu pergunto: vocês conseguem enxergar jogadores
como Mesut Özil, Aaron Ramsey ou Granit Xhaka funcionando bem e dando o seu
melhor em um esquema como esse?
Sim, é a resposta.
Só que quando se trata do Wenger e seus blue-caps,
recebemos um sonoro “só que não”.
Nossos atletas tem zero efetividade em se adaptar a esse
esquema tático. Podemos enxergar essa mudança claramente em jogadores de nossos
principais rivais, como Kevin de Bruyne e David Silva, para citar nomes do adversário
de domingo.
Não me parece o caso do Özil, que tem demonstrado uma
total falta de comprometimento e vontade de se adaptar ao esquema, inclusive
dando declarações públicas de que “não se sente confortável” em jogar pela
ponta.
Wenger tentou transformá-lo em um atacante de ponta de
campo quando, claramente, ele não funciona bem por ali, muito por sua
incapacidade (ou vontade) de se adaptar.
Ramsey é um caso de indisciplina tática, avalizado pelo
comandante, já que não consegue se manter a postos para cobrir o buraco causado
pelas subidas do Back Wide Winger. Ele continua jogando como quer, ou seja,
como meia atacante armador (inclusive sua indisciplina tática criou a única
chance real no jogo de hoje, aproveitada com maestria pelo Lacazette).
Já Xhaka, que é classe, teve seu excelente futebol
boicotado pelo Boss por que não
consegue dar o primeiro combate no meio campo adequadamente por falta de
velocidade necessária para tanto. Ele é um primeiro volante clássico.
Aqui eu estou dando exemplo de três atletas capazes.
Poderia citar qualquer um.
Enfim estamos perdendo a chance de ouro com jogadores
como Olivier Giroud, Hector Bellerín e Laurent Koscielny, que estão no melhor
de sua forma por conta de um treinador que não sabe como treinar seu time para
se adaptar a um esquema que ele não gosta e que nosso time não tem em seu DNA.
Já Alexis é um caso a parte. Um estudo de caso
interessante de nosso “reverso da fortuna”. Eu achava que era uma boa ideia
mantê-lo, mesmo entregando o atleta de graça no próximo verão, em troca de
sermos competitivos, já que não fomos para o monstrengo da Champions League, poderíamos
focar nossos esforços para tentar vencer a liga.
Era uma boa troca, cerca de 60 milhões de libras pela chance
de um título tão esperado. Estava redondamente enganado.
Além de estar em fase técnica ruim, sua cabecinha está em
todo lugar, com seus lindos cachorros, com a namorada bonita, com o azul celeste
da camisa que queria defender, menos nos caminhos de Highbury Road.
Trocando em miúdos: Özil e Sánchez parecem estar em outra
sintonia, num pensamento fechado num futuro que não tem nada a ver conosco, com
nosso clube e com nosso escudo.
Enquanto isso, outros atletas que poderiam estar dando
mais, começam no banco e tem suas chances usurpadas.
Hora ou outra ele se cansaram e pedem para sair como fez
Robin Van Persie, ou pior, farão como Cesc Fàbregas e deixarão o clube pela
porta dos fundos.
Toda fortuna que criamos para nós mesmos é entregue em
forma de futebol ruim para nossos adversários, seja com apresentações abaixo da
crítica, seja com entrega de nossos talentos para equipes mais ambiciosas que
nós.
Somos ou não somos o reverso da fortuna?
João HenRique Alves