sábado, 1 de outubro de 2016

One Arsène Wenger, 20.


There’s only one Arsène Wenger.

Esse é o principal mantra em inglês daqueles que defendem Wenger.

São vinte anos à frente de um dos maiores e mais importantes clubes de futebol do mundo.

Não é pouco. É, sim, impressionante.

Em tempos em que os resultados de campo significam muito mais do que o futebol em si, só o fato de estar tanto tempo à frente do clube, já é uma grande façanha.

Há os que digam que é porque o que importa é o fato de vender todos os 60 mil e poucos ingressos a cada jogo e manter o bolso de Kroenke e cia. cheios de dólares.

“Wenger não se importa com a parte esportiva”.

Fato é que a afirmação acima é meia verdade, pois se não fosse Wenger, eu tenho certeza nosso clube seria um Aston Villa da vida.

É verdade que só é possível vender 60 mil ingressos porque, como afirmou o grande Ian Wright numa entrevista recente, o estádio só existe porque “Wenger o construiu”.

Sim.

Wenger dilapidou sua jóia mais preciosa para dar ao clube um futuro, prejudicando o presente, mas sem manchar o seu passado.

É mentira que ele não se importa com a parte esportiva.

Wenger é o principal responsável por transformar o futebol inglês em algo mais do que força bruta e chuveirinho na área pra cabecear.

Foi o único que, por muito tempo, conseguiu fazer frente ao milionário Manchester United, vencendo-o em diversas ocasiões de maneira heroica.

Na sua chegada ao clube investiu em grandes valores (Bergkamp, Pires, Vieira, Ljundberg, só pra citar alguns senão começo a chorar e estrago o notebook antes de terminar o texto), melhorando assim o futebol do clube na essência, além do que, pensou e criou um estilo de jogo de toque e posse de bola; eliminou a velha e batida marcação por zona; treinou o jogo rápido de transição de meio campo com habilidade e precisão.

No além-campo investiu no treinamento e desenvolvimento de base, mesclando seus elencos com jovens talentos sem se esquecer dos jogadores experientes, balanceando sempre seus times com habilidosos, jogadores fortes e goleiros seguros.

Isso é o que vai ficar para o futuro.

O legado de Wenger vai ficar.

Depois que abandonamos o charmoso Highbury pelo espetaculoso Emirates não tínhamos mais um time competitivo o bastante, porque era preciso manter a austeridade financeira, e, mesmo assim, vimos o técnico francês classificar nosso time para a UCL por todos os anos de sua gestão à frente do clube e consecutivamente, mesmo com times que beiram o horror com perebas como Schillaci, Chamak, André Santos e Djourou (vou parar por aqui, citar mais nomes me faria desistir de levar o texto adiante).

Anos passaram e, mesmo perdendo seus principais jogadores, inclusive por, duas vezes, seu capitão, com traições terríveis e sem condições de concorrer contra o dinheiro do petróleo, da máfia russa e de satã, seguimos em frente.

Apesar de tudo, sempre mantivemos o nível, solidificamos nossa base, o trabalho com os jovens talentos e, principalmente, o bom futebol.

Tá certo que várias vezes enfeitamos a carrocinha pros outros andarem.

Tomamos goleadas históricas, perdemos nossos melhores jogadores para os rivais, inclusive saindo pela porta do fundo: Fàbregas inventou lesão pra assinar o contrato sem distrato; Van Persie assinou com o principal rival; Clichy rasgou um contrato pronto; Nasri e Sagna disseram sem meias palavras que estava saindo porque queriam “ganhar títulos” (parênteses pras risadas, já que ganharam porra nenhuma).

Abrimos mão de acordos escusos para manter a dignidade.

E Arsène nos manteve perto do topo mesmo assim.

É claro, tantos anos à frente do clube, é inevitável os percalços.

Fomos humilhados com goleadas, perdemos títulos importantes tomando gol de Belleti, ficamos anos sem títulos importantes.

Nem tudo foram flores.

Na verdade foram anos atolados na mais pura merda.

E, sim, existem muitas coisas a criticar: sua teimosia em não ouvir, seja os interlocutores mais próximos ou mesmo a imprensa; sua fé cega em jogadores que todo mundo vê que não rendiam mais o esperado ou em esquemas táticos ultrapassados.

Porém, pensem comigo: 20 anos é tempo para acertar e errar bastante.

Acho que Wenger tem ideias ultrapassadas na sua visão de futebol no que concerne ao vestiário, dinâmica tática e a montagem de elenco.

Porém, isso não apaga todas as grandes realizações dele frente ao clube.

E um viés começou há alguns anos: com a parte maior do estádio paga (não, não pagamos tudo ainda) começou a sobrar um fiurim-fiorela, e encorpamos nosso elenco com nomes como Özil, Cech, Alexis Sanchez entre outros, além de manter os nossos melhores jogadores: com isso vencemos duas FA Cup e fomos vice da PL na última temporada.

Temos hoje um elenco profundo e de primeira, muito bem pago; temos condições de oferecer ótimos contratos; um patrocínio de material esportivo dos mais valiosos do mundo; temos dinheiro em caixa; temos cerca de 150.000.000 de fãs no mundo todo; temos estádio cheio todo jogo; temos condições de alçar voos mais altos.

Esse é o legado de Arsène Wenger.

Nesse tempo foram 15 títulos, várias alegrias, um futebol maravilhoso desenvolvido, o já citado estádio e um respeito que não se compra, não se rouba, não se toma. Se conquista.

Sejamos gratos pelo que ele fez pelo clube.

Poucos se mantiveram 20 anos à frente de um clube.

Poucos inventaram um estilo de jogo apreciado por quem gosta do bom futebol.

Poucos são tão respeitados como ele.

Poucos despertam a inveja em colegas que, mesmo tendo mais conquistas contemporâneas, sabem que nunca serão como ele.
E Ninguém ainda conseguiu vencer um PL invicto.

Wenger o fez.

E é por isso que há somente um Arsène Wenger. 

(Texto do nosso colaborador João HenRique Alves, em homenagem aos 20 anos de Arsène Wenger comandando o Arsenal.)

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